sábado, 7 de fevereiro de 2009

Vida

Não há vida que baste quando a vontade é de nada ser
Os passos infindáveis no vazio se perdem todo dia
As lembranças que trago não são minhas, não são minhas

[Minha interna plurialma hoje muda se transforma
Tão eterna quanto beijos se levanta pluriforme
- Não há rio que chegue ao mar com suas gotas todas; eu digo]

Não grite verdades ao que sempre já soube
Ele sabe, ele sabe; e ele perdoa, sorria
E erre mais: o perdão é eterno, externo, incurável

Sinto teus olhos como nuas palavras
Não vejo neles mais do que já alegues haver
E se houver? Se o mais houver?

O mais é maior que qualquer conhecido
O mais é peça obscena, é ponto de vidro na areia do caos
O mais é soturno qual o pranto de velha
O mais é noturno qual a noite de inverno, pois não

- Me ouça:

Transforme em short a saia plissada,
saia na rua tão completamente desnorteada
que haverão de te perguntar por que motivo saístes.

Responda que foi a aurora:
Te chamou um instante cá fora
para dela aproveitar o odor do jasmim.

E ainda que não te acreditem
verão semblante cativo,
verão em ti o teu fim.

Corra então pela rua
e grite, fazendo-se nua,
que a vida não mais seja assim.

E veja que espanto, que louca!
A vida beijando-te a boca
Arrastando-te pro cais, enfim.


Laís Leite